"O cineasta grego Konstantinos Costa-Gavras, naturalizado francês, que o mundo se acostumou a conhecer como Costa-Gavras, dirigiu seu primeiro curta-metragem, Les Rates, em 1958. Mais 11 anos e 4 filmes se passariam antes que sua obra produzisse repercussão internacional, "Z", que estreou em 1969, era aplaudido de pé onde quer que fosse apresentado. Em países como o Brasil, onde estreou com mais de 10 anos de atraso por causa da censura imposta pelo regime militar, seu final era ovacionado por platéias que redimiam, no absurdo das situações que o filme mostrava, a frustração produzida pela ausência de liberdade. A grande sacada de Costa-Gavras foi perceber, mais do que qualquer outro cineasta da história, que política e entretenimento caminham juntos na arte-um filme só pode funcionar como mensageiro de um discurso político se também for competente como sistema de estímulos estéticos. "Z" apresenta um discurso político, mas funciona também como um excelente filme de suspense policial. Produz efeito exatamente porque alia as duas coisas: acreditamos na verdade política daquele discurso, acreditamos na verdade ficcional revelada naquela investigação, reagimos ao absurdo representado pela negação das duas verdades pela ditadura que se implanta no final da obra. Nenhum outro filme de Gavras alcançou tal repercussão. Não importa. Ele continuou um mestre na arte de falar de política por meio de estruturas de gêneros que consideramos exteriores à política. o que nos emociona em um outro filme seu, "Missing", por exemplo, é o drama do casal de pais tentando descobrir o paradeiro de seu filho desaparecido, e não apenas a absurda condição do Chile sob o autoritarismo. No processo, Costa-Gavras contribuiu para chamar a atenção sobre as ditaduras latin0-americanas ("Estado de Sítio"), a questão palestina ("Hanna K"), o extremismo de direita ("Betrayed"), a sobrevivência dos ideais nazi-fascistas ("Music Box"), a desumanidade dos neoliberalismos ("O Golpe") - filmes que contribuíram mais para a causa democrática que centenas de palanques e manifestações." Bom, deu pra perceber o quanto o cara é fera e este ano, aos 76 anos, ele apresentou aqui no Brasil, em Recife, seu mais recente filme, "Eden À L'ouest", narrativa que trata política com emoção e doses de bom humor. Aos amigos que se interessarem eu tenho "Z" (acho que o Renato vai gostar...), tenho também "Missing" e "Music Box".
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